Obituário de João Violante – Sentida homenagem do GEPPAV

Faleceu a 27 de Novembro de 2012, no lugar da Cavada, freguesia de Vilar de Mouros, na casa onde vivia com sua esposa, Maria Eduarda Covelo, João Sebastião Gonçalves, mais conhecido por Violante, nome familiar do lado paterno, aos 85 anos de idade. Já bastante debilitado pelos múltiplos problemas de saúde de que padecia, continuou, mesmo assim e até ao último dia, a fazer uma vida o mais próximo possível da normalidade. Homem de caráter forte, as palavras desistência, ou rendição, não faziam parte do seu vocabulário. No dia anterior à sua morte ainda se deslocou, sozinho, no automóvel próprio, como sempre fazia, ao bar das azenhas, refúgio preferido dos seus momentos de meditação, melancolia, mas também de lazer e de convívio.

 Nascido a 20 de Janeiro de 1927, dia de S. Sebastião (daí o seu nome), no lugar do Agrelo, desta mesma freguesia, filho mais novo e único varão de uma família de pequenos agricultores, começou, logo que cumprida a escolaridade obrigatória, na altura a quarta classe, com doze anos de idade, por ajudar sua mãe e as três irmãs nas bem duras tarefas do campo. Cedo, porém, mudou de rumo.

Correndo-lhe nas veias o sangue dos Gonçalves, família de muitos e bons estucadores, após uma curta passagem pela construção civil, ainda em Caminha, onde deu os primeiros passos na aprendizagem do estuque, partiu, aos dezoito anos, para Lisboa, onde se manteve até aos vinte e cinco, trabalhando na arte e frequentando, ao mesmo tempo, um curso de quatro anos na escola António Arroio. Com os conhecimentos aí adquiridos e possuindo uma apetência e habilidade inatas tanto para o desenho como para a moldagem (há baixos-relevos seus no bar das Azenhas, em sua casa, na parede exterior da Junta de Freguesia e do Centro de Instrução e Recreio Vilarmourense) é de supor que viesse a ter uma carreira de grande sucesso nessa área, não fossem os graves e recorrentes problemas de pele que estiveram na origem do seu prematuro regresso à terra natal. Virou-se então para a cerâmica, primeiro numa breve passagem pela oficina de António Pedro, em Moledo, onde trabalhou com Vítor Barrocas, e depois na fábrica de louça da Meadela. Mas também esta atividade foi de pouca dura. Dada a fraca compensação remuneratória para tanto esforço despendido (tinha de se deslocar diariamente, a pé e de comboio, de casa para o trabalho) e também por conselho médico, abandonou, em 1960, tendo optado por se estabelecer por conta própria, como pequeno comerciante, profissão que exerceria até se reformar.

Homem de convicções, dinâmico, corajoso, de grande firmeza de caráter, muito sensível às desigualdades e injustiças sociais, foi com enorme entusiasmo que assistiu à queda do regime fascista em 1974, tornando-se militante do Partido Comunista Português e desempenhando um papel muito interventivo na vida cívica, associativa e política vilarmourense. Foi vice-presidente do C.I.R.V. – Centro de Instrução e Recreio Vilarmourense, desempenhou funções na Comissão de Moradores local, na Cooperativa Agrícola Vilarmourense e no Conselho Diretivo de Baldios. Em termos estritamente políticos cumpriu dois mandatos como deputado da Assembleia de Freguesia e um terceiro como tesoureiro da Junta, de 1989 a 1993, sempre em representação da coligação integrada pelo PCP.

O seu gosto pela escrita, sobretudo pela poesia, o amor à sua terra e, muito em particular, ao Rio Coura, aliados a um espírito observador, crítico, por vezes mordaz, e a uma alma apaixonada, transbordante de emoções, fizeram com que fosse rabiscando, durante largos anos, ao sabor da inspiração do momento, pequenos textos, em prosa e em verso, em folhas soltas que, compiladas, acabariam por dar origem a um pequeno livro de sua autoria, intitulado “Lírica Vilarmourense”, editado em Novembro de 2010 e oferecido aos amigos e camaradas.

Foi a sepultar no cemitério de Vilar de Mouros, no dia 28 de Novembro de 2012, pelas catorze horas, com a bandeira do PCP a cobrir a urna, conforme sua vontade expressa. Com este obituário, o Grupo de Estudo e Preservação do Património Vilarmourense presta uma sentida homenagem a João Violante, a quem fica a dever uma continuada colaboração e ajuda no sentido da preservação da história de Vilar de Mouros e da memória do seu povo.

 

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