Quem foi Avelino Porto?

Avelino PortoEscrevemos na mensagem anterior que Bendita Queimadela, a peça em ensaios no Centro de Instrução e Recreio Vilarmourense com estreia marcada para o próximo dia 26 de Dezembro, pelas 15h, foi escrita pelo vilarmourense Avelino Porto em 1949 e representada pelo Grupo Dramático do CIRV nesse mesmo ano. Mas quem foi afinal Avelino Porto? É para responder a esta questão que deixamos a seguir uma breve resenha biográfica da sua vida elaborada pelo GEPPAV.
 
Avelino Porto (1881-1973)
 
 Avelino Porto
Avelino José Porto nasceu no lugar da Fonte do Castanho (Marinhas, Vilar de Mouros) no dia 15 de Março de 1881. Era filho de David António Afonso do Porto, pintor da construção civil, e de Ana Joaquina do Monte, parteira. Foram seus padrinhos de baptismo o tio paterno José Maria Afonso do Porto, estucador, e a tia materna, Maria das Neves do Monte. Dois anos passados, em 10 de Outubro de 1883, nasceria na mesma casa o seu único irmão, José Luís Porto.
Ainda na infância, acompanhou a família na emigração para Lisboa onde o pai se estabeleceu como mestre de obras, completando nas escolas da capital o ensino primário, sendo menos certa a frequência de estudos secundários, mesmo se não é impossível que tenha passado pela Escola Industrial Marquês de Pombal, onde foi aluno laureado o irmão José Luís, que viria a ser artista e arquitecto de renome depois de estudos superiores na Suíça como pensionista do Estado.
Como primogénito, terá cabido a Avelino a mais dura tarefa de se juntar ao pai e ao tio nas muitas obras que nesse início do século XX faziam de Lisboa um imenso estaleiro de novas avenidas, altivos prédios de rendimento e mais modestos bairros sociais. Seguindo a profissão paterna, enveredou pela carreira de pintor mas, de mãos habilidosas, depressa se distinguiu na difícil arte de fingidor, imitando no vulgar estuque, artísticos veios de valiosos mármores e outras pedras e madeiras nobres. 
Viviam-se os últimos anos de uma decadente Monarquia, sorriu-lhe a sorte na pessoa de Hedeviges da Conceição Rodrigues (terá nascido em 1881 na freguesia dos Anjos da cidade de Lisboa), menina de boas famílias e fazenda a condizer, com quem se casou por amor e fortuna, feliz união da qual brotaria em 1909 o único filho Mário, também ele futuro arquitecto para não desmerecer a veia artística da família. 
Com moradia garantida lá para as bandas de Rio Seco, na fina Belém, e rendimentos bastantes para não precisar de manter continuamente as mãos no gesso e na cal, Avelino Porto pôde então multiplicar as visitas à bela e romântica Sintra, de que tanto gostava, porventura mercê da admiração que sentia pela obra de Camilo Castelo Branco e da paixão que nutria pela arte fotográfica e até pela ópera, cujas mais famosas árias sabia de cor, como recordam aqueles que melhor o conheceram.
A acrescida disponibilidade na época das festas, quando os muitos emigrados em Lisboa regressavam por momentos à amada terra natal, permitiu-lhe prestar relevantes serviços ao recém-criado Centro de Instrução e Recreio Vilarmourense, do qual foi um dos primeiros associados. Fundado em Novembro de 1935 e dispondo desde Março do ano seguinte de uma sede própria no antigo lagar do azeite, ali à Batalha, o Centro aproveitava o facto de dispor de uma boa sala de espectáculos e dava início à sua época áurea de operetas e variedades. Avelino Porto, alternando com o irmão José Luís, terá sido então responsável por alguns dos cenários das primeiras peças de teatro levadas à cena, como o atesta a decisão da direcção do Centro em o dispensar do pagamento de quotas por serviços prestados à colectividade.
Aproximava-se o final da década de 40, quando Avelino Porto, já sexagenário, regressou definitivamente a Vilar de Mouros, adquirindo para o efeito uma moradia na soalheira encosta de Marinhas, não muito distante da casa paterna, então ocupada pelo irmão, a viver o auge da sua carreira, e a sua vistosa esposa francesa Betsy. Avelino e Hedeviges, por sua vez, levavam uma vida social mais recatada que raramente os fazia ir até à ponte o que contudo não impediu o antigo fingidor de se estrear nas lides literárias, ele que na sua juventude tinha chegado a ser colaborador da imprensa local. 
Entre 1946 e 1949 Avelino Porto terá escrito três obras teatrais, primeiro a opereta Cenas Aldeãs em 1946, que desconhecemos se foi alguma vez levada à cena; em 1948 o drama Caras Pintadas, que foi representado pelo grupo cénico do CIRV no Natal desse ano e repetido noutras actuações até Fevereiro do ano seguinte, com os cenários também da sua responsabilidade. Satisfeito com a boa recepção, escreveu em 1949 a comédia Bendita Queimadela que terá sido levada à cena nesse mesmo ano, assim completando a breve e, que se saiba, única incursão dramatúrgica por autores vilarmourenses até à data. 
Avelino Porto ainda viveria por mais quase duas décadas na sua casa de Marinhas, certamente mais triste a partir de 25 de Fevereiro de 1960 quando enviuvou da sua Hedeviges, restando-lhe os passeios até Caminha onde gostava de cavaquear à porta do Café-Bar com o amigo Júlio Baptista, emérito poeta, também ele no ocaso da vida, com quem trocava epístolas e amargurados sonetos evocando perdidas juventudes. Perto do final, de saúde frágil e limitado fisicamente, foi acolhido no Lar do Bom Jesus dos Mareantes em Caminha, onde viria a falecer no dia 16 de Janeiro de 1973, encerrando aos noventa e um anos de idade uma longa e preenchida existência, plena de fantasia e Arte.