Intervenção do GEPPAV na Reunião Descentralizada da Câmara em Vilar de Mouros em 26 de abril de 2017
1. O GEPPAV recebeu na primeira semana do mês de Abril de 2014, uma comunicação oficial da Direção Geral do Património Cultural relativa à proposta por nós feita em Novembro de 2011 para a classificação patrimonial das Oficinas de Ferreiros Fontes e Torres, no lugar da Torre, em Vilar de Mouros.
2. Nesse ofício, assinado pelo Diretor-Geral, Nuno Vassalo e Silva, que subscrevia o parecer técnico da Direção Regional de Cultura do Norte, e os pareceres concordantes do Diretor Regional, António Ponte, e do Diretor de Serviços, Miguel Rodrigues, propunha-se para ambas as oficinas a sua CLASSIFICAÇÃO COMO DE INTERESSE MUNICIPAL, aí constando o seguinte:
“Atendendo ao seu valor histórico, sócio-económico, tecnológico, no âmbito do património cultural, neste caso industrial, e sendo um dos projetos — a reabilitação da Oficina Fontes — da autoria de José Porto, arquiteto com uma importância a nível nacional e internacional pelos projetos realizados, o espólio que ainda conserva, considera-se que o significado cultural é local, regional, pelo que se propõe a classificação das Oficinas Torres e Fontes como CONJUNTO DE INTERESSE MUNICIPAL, devendo ser enviado à autarquia o processo para que esta promova a respetiva classificação”.
3. No dia 28 de Maio desse mesmo ano de 2014, viemos à primeira reunião descentralizada da Câmara realizada em Vilar de Mouros, perguntar que passos ia dar o executivo municipal para dar cumprimento a esta proposta;
4. Um ano e cinco meses depois, no dia 28 de outubro de 2015, quando da realização da segunda reunião descentralizada em Vilar de Mouros, perguntámos ao executivo em que passo estava esse processo de classificação;
5. Hoje, um ano e seis meses passados, neste dia 26 de Abril de 2017, nesta terceira descentralizada da Câmara na nossa freguesia, dada a contínua e visível degradação do património das duas oficinas, sobretudo da Oficina Fontes, repetimos esta simples pergunta: em que fase está o processo de classificação das oficinas de ferreiros Torres e Fontes como Imóvel de Interesse Municipal?
Faleceu no dia 2 de outubro de 2016, no n.º 64 da rua Dr. Cláudio Bastos da freguesia de Santa Maria Maior da cidade de Viana do Castelo, na casa onde vivia com sua esposa Rosa Gonçalves Aldeia, João Laerte Fife Torres, aos oitenta e oito anos de idade, deixando dois filhos: João Duarte Gonçalves Torres e Maria Clara Gonçalves Torres.
João Laerte Fife Torres nasceu em Vilar de Mouros no dia 6 de abril de 1928 no seio de uma família de estucadores, os Fife. Após completar a escola primária, logo o avô Domingos Fife o chamou para se juntar a ele em Lisboa. Aí fez a dura aprendizagem nas obras de estuque, combinada com as aulas noturnas nas escolas industriais, antes de optar pelo mais delicado, e preferido, trabalho de maquetagem em gesso. Empreendedor, dirigiu a sua própria oficina em Belém antes de ser por último empreiteiro quando as razões económicas foram mais fortes que as de coração. Em 1975, trinta e quatro anos depois de ter chegado à capital, regressou definitivamente à aldeia natal, ainda a tempo de ensinar aos mais jovens a arte e mestria herdada das anteriores gerações de estucadores, depois aplicada nas maquetas.
O gosto de João Laerte em contar histórias e uma constante disponibilidade e simpatia foram de grande utilidade para que o GEPPAV pudesse levar a cabo um estudo sobre os estucadores e maquetistas vilarmourenses editado em 2009, no qual se inclui uma sua extensa entrevista realizada no dia 26 de novembro de 2005. Já depois da publicação desse estudo e na sequência da exposição que o enquadrou e esteve então patente na estufa do Centro de Instrução e Recreio Vilarmourense — instituição de que João Laerte foi sócio desde tenra idade —, este destacado maquetista teve uma particular satisfação no dia 25 de março de 2010. Nessa ocasião, devidamente restaurada pelas suas mãos, foi solenemente colocada em exposição permanente no átrio principal de entrada do Hospital de Santa Luzia, em Viana do Castelo, a grande maqueta em gesso do mesmo hospital por si modelada em 1970 a partir do anteprojeto do arquitecto Raul Chorão Ramalho.
João Laerte Fife Torres foi a sepultar no cemitério de Vilar de Mouros, no dia 3 de Outubro de 2016, pelas quinze horas. Com o presente obituário, o GEPPAV presta uma sentida homenagem a este vilarmourense, a quem fica a dever uma continuada colaboração e ajuda no sentido da preservação da história de Vilar de Mouros e da memória do seu povo.
No passado dia 18 de março, o GEPPAV esteve presente na Tertúlia "O Estuque: saberes, formas e espaços", organizada pelo Centro de Memória do Centro Social e Cultural de Vila Praia de Âncora por ocasião do encerramento da exposição sobre Estuques e Estucadores do Vale do Âncora que esteve patente naquele espaço desde 18 de dezembro de 2015, um importante trabalho de recolha de testemunhos, imagens e objetos levado a cabo pelas investigadoras Cláudia Fernandes e Marta Fernandes.
A tertúlia, que teve na mesa Daniel Labandeiro (em representação do CSCVPA), Álvaro Meira (conhecido maquetista ancorense), Luís São João (estucador de Afife) e Paulo Torres Bento (GEPPAV) foi um bom pretexto para revisitar o passado de uma profissão em que tanto se destacaram no passado os artistas alto-minhotos (sobretudo de Afife, de Vilar de Mouros e do Vale do Âncora) mas também um alerta para o perigo da sua extinção próxima se não houver a indispensável passagem de testemunho geracional.
Não se antevê o regresso do estuque artístico dos séculos XVIII ou XIX, ou do trabalho das maquetas em gesso do século XX — sobre o qual foi exibido um breve mas precioso documentário cinematográfico de 1948 —, mas se não se quiser perder a prazo o património de estuque que existe disseminado por palácios e residências, do Algarve ao Minho, em grande parte obra de homens do Alto Minho, é necessário que se mantenha o saber da arte para o permanente labor de restauro e manutenção.